terça-feira, 9 de dezembro de 2003

POESIA & MULHER ALENTEJANA:


MULHER ALENTEJANA (quadras)

Na planície abrasadora
Com um aroma a poejo
Corajosa e sofredora
A Mulher do Alentejo

Voz molemente cantando
A Mulher do Alentejo
Suave trigo ondulando
Com a doçura dum beijo

Em Baleizão Catarina
Tua coragem revejo
No corpo duma menina
A Mulher do Alentejo

Dobrada no seu mondar
Suporta qualquer gracejo
Sorri e volta a cantar
A Mulher do Alentejo

Ver a mulher a ceifar
Debaixo daquele sol quente
É ouvir Povo a cantar
Naquele tom tão dolente



MULHER DO ALENTEJO (décimas)

1

Cedo aprendes a sofrer
Trabalhando sol a sol
És acusada de mole
Mas não é fácil viver
Sob um calor de arder
Sempre pronta para gracejo
A disfarçar o desejo
De ser feliz e cantar
Levando o dia a ceifar
A Mulher do Alentejo

2

Debruçada sobre o chão
A mondar ou a sachar
Cedo aprendes a lavrar
A ceifar até mais não
Sem sentires a exaustão
O trigo é tua paixão
Pois dele há-de nascer pão
Com teu dolente cantar
Cantas para disfarçar
Leva mais longe a razão

3

Companheira alentejana
Lutadora incansável
Cara e sorriso amável
Queremos a tua gana
E tua lei espartana
Hás-de cumprir teu desejo
De honrar o Alentejo
Ainda um tempo a sofrer
Uma lágrima a correr
Nas canseiras em sobejo

4

Em todo o lado eu te vejo
A azeitona apanhar
Que bom azeite vai dar
E ouço o teu solfejo
Oh mulher do Alentejo
Vencerá tua razão
Tu que lutas com paixão
Como Catarina és mãe
Tens a coragem de quem
Constrói direitos e pão


NB: - Décimas, com mote «A Mulher do Alentejo / leva mais longe a razão / nas canseiras em sobejo / constrói direitos e pão.» de Jorge Marques.



MULHER ALENTEJANA (poesia)

Desde que de ti há memória
Tens sido sofredora e corajosa…
Já Catarina Eufémia,
Com um filho nos braços
E outro no ventre,
Nem por um minuto sequer imaginou
Recuar perante o agressor.
Não se serviu dos filhos como escudo
(Eles faziam parte do próprio corpo…
Eles faziam parte da própria vida…).
Os tiros soaram e ecoaram pelo País
E o seu sangue empapou a terra
Que a vira nascer, viver e sofrer.

A Mulher do Alentejo,
Sob o sol escaldante da planície
Ou no Inverno mais rigoroso,
Tem sempre a face molhada
Ou pelo suor ou pelas lágrimas.
Na ceifa ou na monda,
Na apanha da azeitona
Ou nas tarefas da vida moderna,
Ela está sempre na primeira linha.

Muitas vezes consegue cantar
Enquanto o coração está a sangrar.
Por tudo isto te admiro
Mulher do Alentejo:
Sabes repartir o teu calor humano,
És calma mas rebelde,
És trabalhadora sem igual.
Mesmo em condições adversas,
És o orgulho de Portugal.


Gabriel de Sousa

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