sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

QUANDO UM DIA ME LERES... (ao meu neto de 5 anos)

Nos últimos anos, por todo o mundo, assistiu-se ao desenvolvimento da ciência em todas as suas vertentes, ao mesmo tempo que a cidadania entrava em crise profunda.
Cada um só olha para si, para os seus problemas... Fazendo apenas aquilo que é seu dever/obrigação ( e nem sempre... ), o homem negligencia paradoxalmente os seus direitos e não usufrui portanto da essência total da cidadania.
A cidadania não tem aliás um conteúdo fixo : tem o seu significado original, a que se vem acrescentando uma longa série de traços, segundo a evolução social ao longo dos tempos.
Juridicamente, cidadania pode ser definida como o usufruto dos direitos cívicos ligados à nacionalidade. Dispomos por exemplo do direito de votar e ser eleitos, e igualmente estamos submetidos a determinados deveres, normalmente consagrados em leis.
A definição de cidadania está ligada à ideia de nacionalidade e de democracia, mas até isto está a mudar. Fala-se já em «cidadania europeia» e em «cidadãos do mundo»...

Quando me leres, João, talvez eu já cá não esteja. Gostaria que compreendesses que a Cidadania está dentro de nós e não basta ser decretada por lei. É dentro de nós próprios que temos de encontrar os recursos para a transformar numa coisa viva.
Posso dar-te alguns exemplos : todos sabemos que devemos seguir determinadas regras de civismo, mas não basta sabê-lo. É necessário praticá-lo. Todos temos de trabalhar, mas não unicamente para receber o salário ao fim do mês. Devemos trabalhar com entusiasmo e interesse... Dar o nosso melhor e, claro, paralelamente com esse dever, exercer o direito de reclamar as condições necessárias para a sua prática, bem assim como a sua justa remuneração. Não esquecer que a cada direito, corresponde quase sempre um dever.
Temos o direito de expor as nossas razões, mas temos o dever de o fazer de modo correcto. Temos o direito de falar, mas temos o dever de saber escutar e respeitar os outros. Devemos usufruir da nossa liberdade, mas devemos saber onde começa a liberdade dos outros.
Quando há eleições, sejam elas quais forem, temos o direito de votar, mas temos o dever de o fazer mesmo, de exercer efectivamente este direito de cidadania.
Quando há algo que não está bem no nosso prédio, na nossa cidade, no nosso País, no Mundo, temos o direito de o apontar, mas temos o dever de, dentro das nossas possibilidades, fazer algo para mudar a situação.
Exercer o direito de cidadania, obriga-nos ao dever de cooperar, cada um no âmbito da sua actividade e na medida das suas possibilidades. A começar por nós, no nosso condomínio, na nossa autarquia, no nosso País e continuando, se possível, pela Europa e pelo Mundo.
No mundo global em que vivemos, tudo diz respeito a todos. Abstenção é desinteresse, abandono e egoísmo...

Saibas tu, João, exercer a tua cidadania! Lembra-te do avô quando leres este texto e contribui para melhorar a Vida. Ela não se esgota em nós próprios. Diz respeito a todos os que nos rodeiam. Quanto maior for o círculo em que tentares actuar, melhor cidadão serás. Nunca esqueças os teus direitos ( e utiliza todos os modos legais para os manter ou conquistar), mas sobretudo não ignores os deveres que tens para contigo e para com os outros!

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