segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

ESCULTURA

Gostava de saber burilar cada palavra
Como se trabalhasse uma pedra,
Gostava de saber limar cada frase
De modo a que ficasse o mais clara possível,
Gostava de transmitir sentimentos sabores e cheiros
Para que eles fossem apreendidos por quem lesse,
Gostava de fazer um poema
Com o mesmo amor com que se faz um filho
E que ele perdurasse pelos tempos
Como se fosse uma escultura.
Branca, altiva e serena,
Desafiando o tempo,
Ao sabor do vento e da chuva,
Resistindo ao sol
E servindo de poiso aos pássaros
Que aí viriam descansar.
Gostava que uma lápide em mármore,
Com letras vincadas a negro e dourado,
Dissesse para todo o sempre:
«Este poema foi acabado de esculpir
Aos tantos de tantos de dois mil e tantos,
Por alguém que amava a vida
Mas que foi obrigado a partir
Por ver chegada a sua hora.
Diz-se que sentiu muitas saudades
Mesmo antes da partida
».

Gabriel de Sousa

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