quinta-feira, 25 de março de 2004

PASSAR PELA VIDA SEM PENSAR NA MORTE


Sempre tive muita dificuldade em lidar com a velhice e com a morte. Quando era novo, tentava ignorar certos pensamentos porque tudo vinha ainda muito longe. Os anos passaram no entanto, muito rapidamente, e o tempo restante tornou-se mais escasso.
Talvez porque ao sair do circuito normal de trabalho, tenha passado a ter mais tempo para pensar sobre a vida, dei por mim a fazer cálculos, a supor quantos anos ainda viveria e a achar que eram poucos. Virei-me mais para o passado, até porque queria ser eu a «arrumar a minha vida». A coisa tornava-se doentia e deprimente. Um dia, achei que tinha chegado o momento de dizer «Basta!». Haveria maneira, por certo, de direccionar noutro sentido os pensamentos.
Nenhum de nós pode imaginar quando a vida vai acabar, a menos que tenha uma doença incurável e, mesmo assim, a esperança é a última a morrer.
A criança, o adolescente, o homem ou a mulher, qualquer que seja a sua idade, tanto pode morrer daí a muitos anos, como daí a minutos, horas, dias, semanas ou meses. E não é por isso que passa a vida a pensar na morte.
Tenho passado estes últimos tempos, no pressuposto errado de que poderei viver ainda mais uns dez, vinte anos, e a pensar que é muito pouco. Curioso paradoxo! Eu afinal, sem me aperceber, tenho estado, de certa forma, a ser optimista. Poderei muito bem desaparecer daqui a poucos minutos, meses ou anos!
Devo pois olhar a vida de outra forma. Fazer projectos a curto, a médio e mesmo a longo prazo. Se forem interrompidos, paciência. Eles poderiam tê-lo sido muito tempo antes.
Neste particular, a diferença entre novos e velhos estará apenas nos horizontes temporais que imaginamos. A incerteza no que respeita à duração da vida não nos deve impedir de sonhar ao longo da nossa caminhada. Porque deverá ser diferente quando entramos na chamada «terceira-idade»? Cada período da nossa vida tem o seu encanto. Os anos trazem-nos sabedoria e calma, para poder saborear os momentos que passam e para aceitar melhor algumas adversidades da vida.
Deixei, desde aquele dia, de ser um pessimista assumido para passar a ser um «optimista em construção».

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