sábado, 29 de maio de 2004

POEMAS COM HISTÓRIA…

No Verão de 1969 fui com uns amigos à Costa da Caparica. Depois de um dia de praia, lembrámo-nos de alugar bicicletas e fomos até à Fonte da Telha. No regresso, atrapalhei-me com um carro que abrandou à minha frente numa descida. Travei, fui projectado e fiquei preso ao guiador pelo cinto. Queda, queixo ao chão, sangue pelo ouvido e 24 horas no Hospital de São José. Que recordações eu guardo desta estadia! – Deitado sempre numa maca, pertences escondidos debaixo da roupa, um «vizinho» que faleceu e ali ficou horas «porque já não havia nada a fazer», o pequeno-almoço servido nuns recipientes de alumínio com aspecto sujo e enferrujado e, finalmente, a «alta» porque estava tudo bem!
Passados tempos, uma médica da «Caixa» chamou a atenção para o facto de eu estar a ficar com o maxilar inferior avançado, consequência – vim a saber – de uma fractura de um osso da cara, junto do ouvido. Para corrigir tive de andar cerca de um mês com um aparelho nos dentes, para me fixar os dois maxilares. Como os dentes não eram famosos, além da incomodidade sentia dores. Aproveitei a «baixa», uma das poucas na minha carreira de 47 anos, para ir à praia. Estive na casa do meu irmão no Murtal e na da minha irmã em Monte Gordo. No entanto, sentia-me como um prisioneiro. Eis o que escrevi, há quase 35 anos.


PRISIONEIRO PRÓPRIO

Grades,
arame farpado,
dificuldades,
noção de liberdade
sem a ter,
noção de o comer
sem o fazer,
insónias,
pensamentos,
desconforto,
rotina ...

Cães a uivar
quebrando o silêncio
da noite,
galos a cantar
anunciando a aurora,
estrelas que empalidecem,
o sol que renasce ...

Tudo a trazer-me a certeza
do Hoje se repetir amanhã !

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