terça-feira, 1 de junho de 2004

POEMAS COM HISTÓRIA:

O Mateus trabalhava numa antiga casa de chás situada na Baixa lisboeta. Parte significativa da sua vida era, porém, passada no Ateneu Comercial de Lisboa onde era responsável pela biblioteca quase centenária. Quando havia festas ou iniciativas de qualquer índole, ele lá estava também para fazer ornamentações, desenhos, cartazes e, sobretudo, com muita vontade de ajudar e de ser útil. Tinha sido patinador e era um fanático do Campismo. Com grande bagagem de conhecimentos, era um bom conversador desde que não se entrasse em coscuvilhices. Não se queria mesmo imiscuir em assuntos internos do Ateneu, principalmente ao nível directivo.
Um dia, julgo que em 26 de Outubro de 1971, a notícia chegou. Inexorável. O Mateus não iria mais voltar.
Eu, que nunca tinha praticamente lidado com a morte de familiares nem amigos, senti muito o seu desaparecimento. O Mateus fazia parte da família. Sabia onde encontrá-lo. Onde ir pedir ajuda ou conselho. Agora encontrava apenas a sua ausência. E o poema nasceu…

ANTÍTESE

Triste e acabrunhado
Olho uma rosa pálida:
- Tem uma gotinha de água
Numa das suas pétalas,
Reflexo de qualquer lágrima
Que deslizou pela face
De certa mulher perdida.
Não tardará a murchar,
Para outra rosa nascer
E ela poder ser esquecida.

Antítese das rosas,
Os homens quando morrem
Não devem ser olvidados:
- Estranho mundo que somos,
Coabitando com sombras
Em lugares inocupados.

Sem comentários:

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
- Lisboa, Portugal
Aposentado da Aviação Comercial, gosto de escrever nas horas livres que - agora - são muitas mais...