segunda-feira, 28 de março de 2005

Paris c’est toujours Paris !!

A FESTA DE PARIS
Eduardo Prado Coelho
no «Público» de hoje.

É domingo, chego a Paris, e sinto a enorme diferença em relação a Lisboa. Onde aqui existe uma cidade adormecida, existe ali uma cidade em festa. Cafés, restaurantes, bares, ruas, tudo está repleto de gente. Em certos bairros, é como se fossem centros comerciais: as lojas estão abertas, as pessoas passeiam, as crianças brincam, e os namorados beijam-se na rua. Há jardins com fontes, lugares de passagem, espaços míticos. Veja-se, por exemplo, a praça des Vosges: a calma, a relva, as plantas, as árvores, o sentimento de que a roda da vida é aqui mais lenta.
Passo pelo Salão do Livro. Um excelente "stand" português, um acolhimento simpático das funcionárias do Instituto Português do Livro e da Leitura, a presença da Livraria Lusophone com o Heitor e a Anabela. Passam professores e interessados na cultura portuguesa. Alguns procuram sobretudo instrumentos pedagógicos. Outros precisam de elementos turísticos. Os nossos livros, e alguns daqueles que em França os têm defendido, estão mais uma vez presentes. Incansável, aqui está de novo Solange Parvaux. A nova conselheira cultural, Fátima Ramos, assiste às sessões. Com leituras de poemas (numa tradução de Sophia de Mello Breyner) em que Joaquim Vital gastou cerca de 5 anos, temos o próprio Joaquim Vital, Michel Chandeigne (que no colóquio da Gulbenkian provocará alguma polémica com as suas opiniões sobre a poesia portuguesa) e, com um entusiasmo de quem gosta de ler poesia em público, e conheceu Sophia desde o período em que era criança (e conta como vestiu fatos que ela ia deixando para outras pessoas), Inês de Medeiros.
Público interessado, perguntas oportunas. Mas deixa-se o Salão do Livro com a sensação de que atravessámos um pesadelo, tão grande é o número de gente, tantos os "stands", tantos os livros a descobrir (e a esquecer) nesta tarde de domingo.
À noite temos o Marais, os seus restaurantes de muitas nacionalidades, o seu folclore judaico e "gay" (cada vez mais, sublinhe-se). Os bares parecem sem conta, os americanos turistas multiplicam-se em cada esquina, há latas de cerveja rolando pelo chão, pavilhões de zonas regionais. É bom reencontrar os empregados do meu restaurante preferido, "Le gamin de Paris". Lá está a dona, sempre vestida de branco, evocando os tempos certamente felizes em que conheceu José Bergamin. Lá estão os seus "rapazes" árabes que nos saúdam com simpatia.
Mais tarde temos St. Michel, bares a abarrotar, grupos de música em cada recanto, uma alegria encantada. É bom que Paris esteja onde está e continue a ser como era. Sentimos que passaram muitos anos, e que no fundo nenhum tempo passou. Intelectuais, estudantes, pensadores, músicos, todos atravessam estas ruas como se fossem eternos.

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