sábado, 9 de julho de 2005

VINÍCIUS DEIXOU-NOS HÁ 25 ANOS


CRÓNICA ESCRITA EM JULHO DE 1980

Na praia de Copacabana, o vendedor de sorvetes, correndo pela areia, deixa de lançar seu pregão. A voz rouca, ecoa estranhamente por entre corpos bronzeados, estendidos languidamente, ao sol doce-quente do Inverno carioca: «O Brasil inteiro está de luto! Morreu o poeta Vinícius de Moraes!» – Assim me chegou a notícia da morte do inesquecível e fabuloso Vinícius, ocorrida duas horas antes. Triste recordação de umas curtas férias no Rio de Janeiro que, curiosamente, haviam começado também com outro acontecimento notável: - a visita do Papa.
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Mas voltemos a Vinícius que, a seu modo, também optou pelo lado certo, pela defesa da Liberdade e dos Oprimidos. Quando lhe perguntaram um dia se era feliz, teve esta resposta lapidar: «Se me pergunta se sou feliz com a minha mulher digo de imediato que sim, muito. Mas se me pergunta sobre a minha felicidade como ser humano, a resposta é negativa. Como se pode ser feliz numa sociedade tão injusta?».
Vinícius expirou após uma hora de esforços desesperados para arranjar um médico e uma ambulância. Quando esta última chegou, o seu coração parara há 10 minutos. Dez horas mais tarde, o seu corpo descia à sepultura, enquanto os acompanhantes entoavam em sua homenagem a «Garota de Ipanema» e «Está chegando a hora». Tudo se passou muito rápido. Demasiado rápido. Num abrir e fechar de olhos, o Mundo ficara mais pobre. À noite, em Ipanema, paradoxalmente sentia-se ainda mais viva a sua presença. No barzito, onde ele se costumava reunir com a roda de amigos para construir os poemas e as letras das suas canções, podia ver-se uma vela a arder numa mesa abandonada... Não muito longe, o letreiro de um outro bar – o seu – vinha lembrar-nos que ele decerto não temia a morte. Ironicamente o baptizara: Bar Cirrose... Só morrem verdadeiramente, no entanto, aqueles que são esquecidos. Vinícius não o será.
Mal regresso a Lisboa, releio um dos seus livros e dou comigo a soletrar, letra a letra, sílaba a sílaba, verso a verso, um dos seus poemas. Será um poema já por demais conhecido, mas é sempre útil relê-lo; será sempre útil ver como se pode transformar «Em operário construído», o operário em construção. Saravah Vinícius de Moraes!

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