quinta-feira, 17 de agosto de 2006

OS NOSSOS ARTISTAS
 
É consensual a opinião de que os artistas, quando são notáveis, contribuem para a riqueza e prestígio duma nação, seja na pintura ou no desenho, no circo ou na música, no canto ou no bailado, na escultura ou na arquitectura, na literatura ou na fotografia...
Uma pergunta, no entanto, se impõe: - Quem são verdadeiramente os nossos artistas? Serão só aqueles que levam, ou levaram, o nome do nosso País além fronteiras como, entre muitos outros, Paula Rego ou Bordalo Pinheiro, Lopes Graça ou Amália Rodrigues, Soares dos Reis ou Siza Vieira, José Saramago ou Eduardo Gageiro?
Um Mestre português, Agostinho da Silva se a memória não me atraiçoa, disse um dia que o Mundo seria melhor e mais culto quando cada um de nós se puder realizar fazendo apenas aquilo de que gosta e não tudo o que é obrigado a fazer para subsistir. Não me atrevo a tanto, embora saiba que «as utopias só o são até se realizarem», mas o meu deambular pelo país tem-me feito reflectir sobre o assunto.
Nas cidades, vilas e aldeias que tenho visitado, há gente que faz Cultura no quotidiano, sem parangonas nos jornais, com muito esforço e gastando por vezes dinheiro do próprio bolso. Nos Clubes, Academias e Associações Culturais e Recreativas, nas Associações de Reformados, nas Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, até na Internet acompanhando as novas tecnologias. Igualmente no artesanato, mesmo a título individual.
É um cortejo de declamadores, de grupos de teatro, de grupos corais, de cantores, de grupos folclóricos, de bandas de música, de dançarinos e de artesãos. É também a organização de Certames Literários e de Jogos Florais, que trazem à luz do dia poetas e escritores desconhecidos do grande público. São os livros e discos com edições custeadas pelos próprios autores...
Todos estes homens e mulheres, país fora, acabam por fazer tanto ou mais pela Cultura do que aqueles cujos nomes sonantes, de vez em quando, aparecem nas primeiras páginas dos jornais e das revistas ou nos noticiários da rádio e da televisão. O mérito destes últimos é inquestionável, mas é pena que não se divulgue e não se apoie mais aqueles que oferecem os seus tempos livres e até a sua bolsa para divulgar a Cultura, recebendo em troca, por vezes, apenas invejas e incompreensões.
Eles são os verdadeiros Artistas que, tranquilamente, na sombra, sem alardes, desenvolvem o gosto pelas Artes, tanto sob o ponto de vista de dinamização da sua prática, como no de proporcionarem a sua divulgação e gosto junto das populações.
Eles são obreiros de projectos autónomos, com mais actos do que palavras, que a pouco e pouco vão transformando Portugal num país mais culto. Eles merecem, por isso, que os responsáveis políticos pelas áreas da Cultura não andem tantas vezes distraídos!

NB – 3º Prémio nos 36ºs. Jogos Florais Internacionais de Nossa Senhora do Carmo – Fuzeta - 2006

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