domingo, 19 de outubro de 2008

EFEMÉRIDESamora Moisés Machel, líder revolucionário, primeiro presidente de Moçambique, morreu nos montes Libombos, em 19 de Outubro de 1986. Nascera em Madragoa (hoje Chilembene), no dia 29 de Setembro de 1933. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o Prémio Lenine da Paz.
Samora entrou na escola primária com nove anos, quando o governo colonial português entregou a “educação dos indígenas” à Igreja Católica. Quis depois continuar a estudar, mas os padres só lhe permitiam o curso de Teologia e Samora teve de tentar a vida em Lourenço Marques (hoje Maputo). Encontrou trabalho no principal hospital e, em 1952, iniciou um curso de enfermagem. Em 1956 foi colocado, já como enfermeiro, na ilha da Inhaca.
Samora ia tomando conhecimento de tudo o que se passava no Mundo, como a formação da República Popular da China (1949) e a independência do Gana (1957), seguida pela de vários outros países africanos. Foi o seu encontro com Eduardo Mondlane em 1961 e a perseguição política de que já estava a ser alvo, que levaram Samora Machel à decisão de abandonar o país em 1963, juntando-se à FRELIMO na Tanzânia. Este Movimento de Libertação já tinha chegado à conclusão que não seria possível conseguir a independência de Moçambique sem a luta armada. O jovem enfermeiro foi integrado num grupo de recrutas para receber treino militar na Argélia. No seu regresso à Tanzânia, foi nomeado comandante.
Em 3 de Fevereiro de 1969, Eduardo Mondlane, então presidente da FRELIMO, foi assassinado com uma “encomenda bomba”. O Vice-Presidente, reverendo Simango, assumiu a presidência, mas o Comité Central decidiu rodeá-lo de duas figuras - Machel e Marcelino dos Santos, formando assim um triunvirato. Em Maio de 1970, noutra sessão do Comité Central, Simango foi expulso do movimento e Samora Machel foi eleito Presidente da FRELIMO, com Marcelino como Vice-Presidente.
Nos anos seguintes e até 1974, Samora conseguiu organizar a guerrilha de forma a neutralizar a ofensiva militar portuguesa e orientou as Zonas Libertadas, que abrangiam então cerca de 30% do território. Para além disso, Samora dirigiu uma ofensiva diplomática, em que granjeou apoios, não só dos tradicionais aliados socialistas, mas inclusivamente do próprio Papa.
A seguir ao 25 de Abril de 1974 em Portugal, o então Ministro dos Negócios Estrangeiros português Mário Soares chefiou uma delegação, em que propôs à FRELIMO um cessar-fogo e a realização dum referendo sobre a independência. Samora recusou, afirmando que «A Paz era inseparável da Independência». Finalmente, em Setembro de 1974, foram assinados os Acordos de Lusaka com o governo português, em que foi decidida a formação de um governo de transição, integrando elementos nomeados por Portugal e outros pela FRELIMO, e que a independência teria lugar em 25 de Junho de 1975.
A FRELIMO resolveu que o primeiro-ministro do governo de transição não seria Samora, mas sim Chissano, chefe do Departamento de Segurança. Entretanto, Samora fez várias viagens aos países socialistas e a países vizinhos de Moçambique, para agradecer o apoio durante a luta pela independência e solicitar ajuda para a construção de Moçambique independente. Durante uma sessão do Comité Central, foi aprovada a Constituição da República Popular de Moçambique e decidido que Samora Machel seria o seu primeiro Presidente.
No plano interno, Samora assumiu uma política autocrática e populista, tentando desenvolver o país em bases socialistas e reprimindo qualquer dissidência interna. Promoveu o recenseamento da população em 1980 e a troca da moeda colonial pela nova moeda, o Metical, no mesmo ano.
Grande número de residentes de origem estrangeira abandonou o país, o que provocou a paralisação temporária de muitas empresas e, mais tarde, por falta de capacidade de gestão, o colapso de muitos sectores.
Samora não conseguiu suster a guerra promovida logo a seguir à independência pelos regimes racistas vizinhos (África do Sul e Rodésia), que se tornou numa verdadeira guerra civil de 16 anos, provocando cerca de um milhão de mortos, cinco milhões de deslocados e destruindo grande parte das infra-estruturas do país.
A crise levou Samora Machel a tentar o apaziguamento com os “Quadros”, com o Movimento rival “RENAMO”, com o Banco Mundial e com o FMI, no sentido de parar a guerra e relançar a economia.
No dia 19 de Outubro de 1986, quando regressava de uma reunião internacional na Zâmbia, o Tupolev 134 em que viajava, junto com vários dos seus colaboradores, despenhou-se em Mbuzini, nos montes Libombos, ainda em território sul-africano, mas perto da fronteira com Moçambique. O acidente foi atribuído a erro do piloto russo, mas ficou provado que este tinha seguido um radiofarol cuja origem não foi determinada. Isto levou a especulações sobre a possível cumplicidade dos serviços secretos sul-africanos no desastre, o que nunca se conseguiu provar.
A viúva de Samora, Graça Machel, com quem ele se tinha casado em 1977, casou-se em 1998 com Nelson Mandela.

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