sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

EFEMÉRIDEDona Ana de Sousa (ou Ngola Ana Nzinga Mbande ou Rainha Ginga), soberana dos reinos do Ndongo e de Matamba no Sudoeste de África (século XVII), morreu em Matamba no dia 17 de Dezembro de 1663. Nascera no ano de 1583. O seu título real na língua quimbundo (“Ngola”) foi o nome utilizado pelos portugueses para denominar aquela região (Angola).
Viveu durante um período em que o tráfico de escravos e a consolidação do poder dos portugueses na região estavam a crescer rapidamente. Era filha de Mbande Ngola Kiluaje e de Guenguela Cakombe, e irmã de Ngoli Bbondi (o régulo de Matamba) que, tendo-se revoltado contra o domínio português em 1618, foi derrotado pelas forças sob o comando de Luís Mendes de Vasconcelos. O seu nome surge nos registos históricos três anos mais tarde, como uma enviada de seu irmão para uma conferência de paz com o governador português de Luanda. Após anos de incursões portuguesas para capturar escravos e entre batalhas intermitentes, ela negociou um tratado de igualdade, converteu-se ao cristianismo para fortalecer o tratado e adoptou o nome português de Dona Ana de Sousa.
No ano seguinte, porém, reiniciaram-se as hostilidades, não se sabendo exactamente as razões, que divergem segundo as fontes.
Dona Ana, como soberana, rompeu os compromissos com Portugal, abandonando a religião católica e praticando uma série de violências não só contra os portugueses, mas também contra as populações tributárias de Portugal na região. O governador de Angola, Fernão de Sousa, moveu-lhe uma guerra exemplar, derrotando-a numa batalha em que morreu muita gente e em que aprisionou as suas duas irmãs, Cambe e Funge. Estas foram trazidas para Luanda e baptizadas respectivamente com os nomes de Bárbara e Engrácia, regressando mais tarde a Matamba.
A rainha manteve-se depois em paz durante quase duas décadas até que, diante do plano de conquista de Angola por forças da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, viu ali uma nova oportunidade de resistir, formando uma aliança com os holandeses. Com o auxílio das forças de Nzinga, os holandeses conseguiram ocupar Luanda de 1641 a 1648.
Em Janeiro de 1647, Gaspar Borges de Madureira derrotou as forças de Nzinga, voltando a prender Bárbara. Com a reconquista definitiva de Angola pelas forças portuguesas de Salvador Correia de Sá e Benevides, Dona Ana retirou-se para Matamba, onde continuou a resistir.
Em 1657, um grupo de missionários capuchinhos italianos convenceu-a a abraçar de novo a fé católica e, então, o governador de Angola, Luís Martins de Sousa Chichorro, restituiu-lhe a irmã que ainda estava em cativeiro.
Em 1659, Dona Ana de Sousa assinou novo tratado de paz com Portugal, ajudou a reinserção de antigos escravos e organizou uma economia que, ao contrário de outras no continente, não dependia da escravatura. Dona Ana faleceu de forma pacífica aos oitenta anos de idade, como uma figura admirada e respeitada por Portugal.
Após a sua morte, 7 000 mil dos seus soldados foram levados para o Brasil e vendidos como escravos. Os portugueses passaram a controlar o território em 1671. Em certas áreas, porém, Portugal não obteve controlo total até ao século XX, principalmente devido ao seu tipo de colonização, centrado sobretudo no litoral.

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