sábado, 23 de abril de 2011

EFEMÉRIDEOlga Gutmann Benário Prestes, jovem militante comunista alemã de origem judaica, deportada para a Alemanha durante o governo brasileiro de Getúlio Vargas, morreu em Bernburg no dia 23 de Abril de 1942. Nascera em Munique, em 12 de Fevereiro de 1908.
Tinha ido para o Brasil na década de 1930, por determinação da Internacional Comunista, para apoiar o Partido Comunista do Brasil. Conheceu Luís Carlos Prestes na União Soviética, tornando-se sua mulher.
Com apenas quinze anos, filiara-se na Liga Juvenil Comunista da Alemanha. Após a queda da monarquia, instaurou-se um regime republicano na Alemanha, a chamada República de Weimar. O regime, no entanto, nunca foi aceite nem pela direita nem pela esquerda comunista. Esse conflito entre a direita e a esquerda marcou um período turbulento da história da Alemanha, com lutas armadas entre milícias paramilitares e com homicídios políticos.
Olga ascendeu dentro do movimento revolucionário comunista, sendo presa e acusada de «alta traição à pátria». Esteve detida pouco tempo. Juntamente com os seus colegas de militância, planeou então o assalto à prisão de Moabit em Berlim para libertar presos políticos. Fugiu depois para a Checoslováquia e União Soviética onde, já como quadro valioso, recebeu treino político-militar na Escola Lenine.
Luís Carlos Prestes que, desde 1931, estava a residir na União Soviética, foi eleito membro da comissão executiva da Internacional Comunista. Em 1934, voltou ao Brasil, via Nova Iorque, como clandestino, acompanhado de Olga Benário, também membro da IC. O objectivo era liderar uma insurreição armada.
Olga e Prestes eram apoiados financeira e logisticamente pelo Secretariado Latino Americano, que operava clandestinamente em Montevideu e no Uruguai.
Chegaram ao Brasil com documentos falsos, fazendo-se passar por um casal português. Prestes juntou-se ao movimento recém-constituído denominado Aliança Nacional Libertadora, frente política revolucionária de carácter antifascista e anti-imperialista que congregava militares, socialistas e comunistas descontentes com o Governo Vargas. Mesmo vivendo na clandestinidade, Prestes foi calorosamente aclamado presidente de honra da ANL na sua sessão inaugural no Rio de Janeiro. Prestes procurou então aliar o enorme crescimento da Aliança, com a retomada de antigos contactos no meio militar e assim criar as bases que julgava capazes para tomar o poder no Brasil. Em Julho de 1935, divulgou um manifesto incendiário, apelando para os sentimentos nacionalistas das classes médias e exigindo o derrube do governo Vargas.
Um levantamento armado eclodiu na cidade de Natal, motivado principalmente por factores locais. Prestes ordenou, porém, que a insurreição fosse estendida ao resto do país. Apenas algumas unidades militares do Recife e do Rio de Janeiro aderiram. O governo brasileiro controlou rapidamente a situação e desencadeou uma forte repressão sobre os sectores oposicionistas. Muitos líderes comunistas foram presos. Durante alguns meses, Prestes e Olga conseguiram continuar a viver na clandestinidade.
Em Março de 1936, foram detidos pela polícia. Olga ficou presa na Casa de Detenção, numa cela com mais de dez mulheres, muitas delas conhecidas suas. Aí, descobriu que estava grávida de Luís Carlos Prestes. Surgiu a ameaça de deportação para a Alemanha de Hitler. Seria a morte para ela, pois além de judia era comunista. Começou então na Europa um grande movimento pedindo a libertação de Olga e de Prestes.
O julgamento de Olga foi feito segundo os termos formais da ordem constitucional definida pela constituição federal, atendendo a um pedido de extradição do governo nazi. Nos termos da constituição em vigor, o julgamento era legal. O advogado de defesa de Olga pediu um indulto, argumentando que a extradição era ilegal pois Olga estava grávida e a sua extradição significaria colocar o filho de um brasileiro sob o poder de um governo estrangeiro.
Não obstante tudo isso, o Supremo Tribunal Federal aprovou o pedido de extradição, Vargas não decretou o indulto e Olga foi deportada para a Alemanha. Foi transportada num navio cargueiro, apesar dos protestos do próprio capitão pela violação do Direito Marítimo Internacional: Olga já estava grávida de sete meses. Quando o navio aportou a Hamburgo em Outubro de 1936, oficiais da Gestapo já a esperavam para a prender.
Foi levada para Barnimstrasse, a temida prisão de mulheres da Gestapo, onde teve a filha, Anita Leocádia, futura historiadora e professora-adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Anita ficou em poder da mãe até ao fim do período de amamentação e, depois, foi entregue à avó, mãe de Prestes.
Olga foi transferida para o campo de concentração de Lichtenburg nos primeiros dias de Março de 1938 e, em 1939, foi enviada para o campo feminino de Ravensbrück. Aqui, as prisioneiras viviam sob escravidão e eram sujeitas a experiências pelo médico Karl Gebhardt. Relatos de sobreviventes contam que, durante o seu tempo em Ravensbrück, Olga organizou actividades de solidariedade e resistência, aulas de ginástica e de história.
Na Páscoa de 1942, já com 34 anos de idade, foi enviada para o campo de extermínio de Bernburg, onde foi assassinada numa câmara de gás.
Após a Segunda Guerra Mundial, Olga seria objecto de culto na República Democrática Alemã, como exemplo de uma mãe vítima do nazismo. É nome de rua, “Olga Benário Prestes”, na antiga Berlim Oriental e noutras seis cidades alemãs e a sua efígie constou em moedas e selos, além de ter dado nome a 91 escolas, creches, ruas e praças em cidades que pertenciam à antiga República Democrática Alemã. No Brasil, Olga Benário dá também nome a ruas, praças e escolas em várias cidades, incluindo São Paulo.
Em 1989, a telenovela “Kananga do Japão” retratou o casal Olga Benário e Luís Carlos Prestes, com interpretação dos actores Betina Vianny e Cassiano Ricardo.
Em 2006, Jorge Antunes compôs a ópera “Olga”, com libreto de Gerson Valle, que foi estreada em Outubro de 2006 no Teatro Municipal de São Paulo.

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