domingo, 18 de maio de 2014

18 DE MAIO - DIAS GOMES



EFEMÉRIDE – Alfredo de Freitas Dias Gomes, romancista, dramaturgo, autor de telenovelas e membro da Academia Brasileira de Letras, morreu em São Paulo no dia 18 de Maio de 1999, vítima de um acidente de automóvel. Nascera em Salvador, em 19 de Outubro de 1922. Fez o curso primário no Colégio Nossa Senhora das Vitórias e iniciou o secundário no Ginásio Ipiranga. Em 1935, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu o curso secundário no Ginásio Vera Cruz e, posteriormente, no Instituto de Ensino Secundário. Em 1943, ingressou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, abandonando o curso no 3º ano.
Foi no ambiente radiofónico que Dias Gomes travou contacto pela primeira vez com aquela que viria a ser a sua primeira esposa, a então desconhecida Jenete (Janete Clair). Viúvo de Janete Clair, que morreu em 1983, casou-se no ano seguinte com a actriz Bernadeth Lyzio.
Aos 15 anos, escreveu a sua primeira peça de teatro, “A Comédia dos Moralistas”, com a qual ganharia o Prémio do Serviço Nacional de Teatro. Em 1941, a sua peça “Amanhã Será Outro Dia” chegou às mãos do actor Procópio Ferreira que, empolgado com a qualidade do texto, chamou o autor para «terem uma conversa». Embora tivesse gostado do que lera (tratava-se de um drama antinazi), Procópio achava arriscado levar à cena um espectáculo deste cariz em plena Segunda Guerra Mundial. Quando questionado «se não teria uma outra peça, de comédia talvez», Dias lembrou-se de “Pé de Cabra”, uma espécie de sátira ao maior sucesso de Procópio até então, e não hesitou em levá-la ao grande actor que, entusiasmado, comprometeu-se a encená-la.
Sob a alegação de que a peça possuía alto conteúdo marxista, “Pé de Cabra” foi proibida no dia da estreia. Curioso notar que, embora anos depois o autor viesse a filiar-se no Partido Comunista Brasileiro, até então Dias Gomes nunca havia lido uma só linha de Karl Marx. Graças à sua influência, Procópio conseguiu “libertar” a peça, mediante o corte de algumas passagens, e a mesma acabou por ser levada à cena com grande sucesso. No ano seguinte, Dias Gomes assinaria com Procópio aquele que seria o primeiro grande contrato da sua carreira, no qual se comprometia a escrever em exclusividade para o actor. Desse período nasceram “Zeca Diabo”, “João Cambão”, “Dr. Ninguém”, “Um Pobre Génio” e “Eu Acuso o Céu”. Infelizmente, nem todas as peças foram encenadas, pois Dias Gomes e Procópio desentenderam-se por sérias divergências políticas. Reflectindo o pensamento da época, Procópio não concordava com as preocupações sociais que Dias insistia em discutir nas suas peças. Tais diferenças levariam o autor a afastar-se temporariamente dos palcos, passando a dedicar-se à rádio.
De 1944 a 1964, Dias Gomes adaptou cerca de 500 peças teatrais para o rádio, o que lhe proporcionou um apurado conhecimento da literatura universal. Em 1960, voltou aos palcos com aquele que viria a ser o maior êxito da sua carreira e pelo qual se tornaria internacionalmente conhecido: “O Pagador de Promessas”. Adaptado ao cinema, foi o primeiro filme brasileiro a receber uma nomeação para os Oscars e o único a ganhar uma Palma de Ouro em Cannes.
Em 1965, assistiu, perplexo, à proibição da sua peça “O Berço do Herói”, no dia da estreia. Adaptada para a televisão com o nome de “Roque Santeiro”, seria proibida uma década depois, também no dia da estreia. Somente em 1985, com o fim do Regime Militar, o público veio a assistir a esta peça. 
Com a implantação da Ditadura Militar no Brasil em 1964, Dias Gomes passara a ter as suas peças censuradas. Demitido da Rádio Nacional, não lhe restou outra saída senão aceitar o convite de Boni, então presidente da Rede Globo, para escrever para a televisão.
De 1969 a 1979, Dias Gomes dedicou-se exclusivamente à TV, na qual demonstrou grande talento. Em 1973, escreveu a primeira novela a cores da televisão brasileira, “O Bem Amado”. Em 1974, já falava em ecologia e no crescimento desordenado das cidades, em “O Espigão”. Em 1976, com “Saramandaia”, abordou o realismo fantástico, então em moda na literatura. O fracasso de “Sinal de Alerta”, em 1978, levou-o a afastar-se temporariamente do género telenovela.
Ao longo da década de 1980, Dias Gomes voltou a dedicar-se ao teatro, escrevendo para a televisão só esporadicamente. Datam desse período os seriados “O Bem Amado” e “Carga Pesada”, e a novela “Mandala”. Nos anos 1990, virou as costas de vez as telenovelas, dedicando-se única e exclusivamente às mini-séries. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em Abril de 1991.

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