sexta-feira, 17 de novembro de 2017

17 DE NOVEMBRO - LIMA LEITÃO


EFEMÉRIDE - António José de Lima Leitão, médico, político, militar, professor e escritor português, nasceu em Lagos no dia 17 de Novembro de 1787. Morreu em Lisboa, em 8 de Novembro de 1856. Destacou-se também como tradutor de clássicos da literatura europeia. Foi um dos pioneiros da medicina homeopática em Portugal, que pretendeu, mas sem sucesso, incluir no ensino médico.
Fez os seus estudos elementares em Lagos. Em 1808, com apenas 20 anos de idade, foi nomeado cirurgião-ajudante do Regimento de Infantaria nº 2 que, naquele ano, foi incorporado na Divisão de Infantaria, formada por ordem do general Junot, então comandante das forças de ocupação franco-espanhola em Portugal. Aquela divisão foi enviada para Salamanca, onde se incorporou na Legião Portuguesa e seguiu para França e daí para diversas frentes das Guerras Napoleónicas, onde combateu integrada no Exército Imperial Francês.
Mantendo-se ao serviço das forças napoleónicas, em 1812 foi promovido a cirurgião-mor do Batalhão de Pioneiros do Grande Exército e, pouco depois, colocado, no mesmo posto, no Quartel-General Imperial, em Paris. Aproveitou a sua estadia na capital francesa e formou-se em Medicina na Universidade de Paris. Neste período, aderiu decisivamente à ideologia liberal e terá sido admitido na Maçonaria.
Terminadas as Guerras Napoleónicas (1814), foi desmobilizado e voltou a Portugal, onde - tal como aconteceria com a generalidade dos veteranos da Legião Portuguesa - foi mal recebido, já que o serviço prestado a Napoleão Bonaparte era visto como traição à pátria. Neste mesmo ano, publicou - ainda em França - o poema “Ode ao duque de Wellington”, general chefe do Exército Português depois da paz, aparentemente para se demarcar da sua adesão à causa francesa. Não encontrando bom acolhimento em Lisboa, partiu para o Rio de Janeiro, onde se encontrava a Corte portuguesa.
Depois de algum tempo de permanência no Brasil, conseguiu em 1816 ser nomeado por D. João VI para o lugar de físico-mor de Moçambique, para onde partiu e onde permaneceu algum tempo. Em finais de 1818, regressou ao Rio de Janeiro. No ano seguinte, foi nomeado físico-mor e intendente geral da Agricultura na Índia, com exercício em Goa, para aonde partiu ainda em 1819.
Estava em Goa, quando triunfou a Revolução Liberal do Porto, apenas dela tomando conhecimento em Março de 1821. Como liberal convicto, assumiu papel de relevo na implantação do regime liberal no Estado da Índia, sendo um dos motores do processo revolucionário que conduziu ao afastamento do poder e subsequente prisão, em Setembro de 1821, do vice-rei Diogo de Sousa. Quando se formou a Junta Provisional do Governo do Estado da Índia, Lima Leitão era um dos 7 revolucionários que a deveria integrar. Contudo, a Junta teve apenas 5 membros, nela não tendo tido assento Lima Leitão. Esta exclusão, manifestação das divisões que já grassavam entre os liberais goeses, a que se juntava a desconfiança entre a comunidade nativa e os europeus, contribuiu para a instabilidade política no período subsequente. Isto levou a que, nos meses imediatos, se sucedessem as tentativas de contragolpe, as prisões, incluindo a de Lima Leitão, e finalmente a queda da Junta, substituída por outra presidida por D. Manuel Maria Gonçalves Zarco da Câmara, da qual Lima Leitão fez parte. Em todo este conturbado processo, Lima Leitão assumiu-se como um dos líderes mais activos.
Quando, em Janeiro de 1822, se realizaram em Goa as eleições para deputados às Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, Lima Leitão foi um dos três deputados eleitos pela Índia Portuguesa (os outros dois eram de origem goesa). Fez assim parte do grupo dos primeiros deputados a serem eleitos nas colónias portuguesas do Oriente. Quando chegou a Lisboa, já a Vila-Francada tinha levado à dissolução das Cortes, pelo que não chegou a prestar juramento. Ainda assim, foi um dos deputados que subscreveu o protesto contra a dissolução e a suspensão da Constituição Portuguesa de 1822, recém-jurada. Decidiu não regressar a Goa, demitindo-se do cargo de Intendente Geral da Agricultura da Índia.
Após uma estadia em Lagos, onde -  em 1824 - publicou uma “Ode dedicada a D. João VI”, fixou-se em Lisboa e, em 1825, foi nomeado lente da cadeira de Clínica Médica na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, então a funcionar no Hospital de São José. Foi eleito deputado às Cortes de 1826. Após a outorga da Carta Constitucional, publicou uma “Ode a D. Pedro IV”.
Apesar do fervor revolucionário revelado na Índia, manteve-se em funções ao longo do conturbado período de restauração do absolutismo e do governo de D. Miguel I de Portugal. Em 1828, já em plena restauração miguelista, publicou uma “Dissertação inaugural” pronunciada na abertura dos cursos da Escola Real de Cirurgia de Lisboa, o que demonstra a sua relativa aceitação pelo novo poder. Permaneceu no seu cargo durante a Guerra Civil Portuguesa (1828/34), não tendo sido incomodado pelo poder absolutista então instalado em Lisboa.
A partir de 1833, com a vitória liberal, esta sua aparente submissão ao absolutismo, em contradição com as suas convicções liberais, desencadeou severas críticas por parte dos emigrados liberais, desembocando numa intensa polémica pública. Quando invocou uma estudada prudência para explicar não ter sido perseguido, foram múltiplas e violentas as críticas, particularmente dos ex-emigrados que o apodavam de poltrão. Lima Leitão defendeu-se com desassombro, granjeando no processo grande número de inimigos.
Apesar da polémica e de muitas inimizades, continuou a sua carreira como lente de Medicina e de Química na Escola Médico-Cirúrgica.
Foi um dos fundadores da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, a cuja direcção presidiu de 1838 a 1842. Entre 1844 e 1846, foi presidente da Comissão de Saúde Pública daquela associação.
Foi um dos pioneiros da medicina homeopática em Portugal, adoptando os ensinamentos de Samuel Hahnemann, cuja obra traduziu do francês. A partir de 1853, quando tentou introduzir na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa o ensino da Homeopatia, caiu profissionalmente em desgraça. Também manteve um contencioso sobre a matéria com Rodrigo da Fonseca Magalhães, ao tempo ministro do Reino, responsável pela Educação.
Foi feito cavaleiro da Ordem Militar de Cristo e foi membro honorário de várias instituições científicas e literárias de Portugal, Brasil, Espanha e França.
Lima Leitão também se dedicou à literatura, tendo editado várias obras sobre medicina, política e de poesia. Traduziu ainda várias obras estrangeiras e clássicas, como a “Arte Poética” de Horácio, a “Estante do Coro” de Nicolas Boileau e, principalmente, a obra “Paraíso Perdido” de John Milton. Deixou ainda uma vasta obra dispersa pela imprensa portuguesa.

Sem comentários:

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
- Lisboa, Portugal
Aposentado da Aviação Comercial, gosto de escrever nas horas livres que - agora - são muitas mais...